terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O caldeirão, por Luís Augusto Cassas

Luís Augusto Cassas (*)



o que aconteceu?
por mais que o abismo
sorrisse olhos de orfeu
à luz confessemos:
grávidos gravitamos
no fogo de Deus

mas os planetas
em proximidade
abriram florestas
nas identidades
e o vento disse às centelhas:
as brasas – elevemo-las

no intenso carrossel
o eros se ergueu
adoeceu philia
o ágape se perdeu
a mágica poção
de sol veu-se

(Do livro “A mulher que matou Ana Paula Usher”, Imago Editora – Rio de Janeiro).

* Poeta de São Luís/MA.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Minha forma de rezar, por Fabiana Bórgia

Minha forma de rezar, por Fabiana Bórgia

Fabiana Bórgia (*)



A preguiça me vem à tona,
que gosto de sono profundo,
daquele de manhãzinha,
onde o pesadelo é acordar.

O ócio é o ópio
e eu trabalho como quem paga penitência.
E eu só quero poesia:
minha forma de rezar.

(Do livro “Desconexos”, Íbis Libris – Rio de Janeiro).

(*) Poetisa e advogada, fazendo especialização em Leitura e Produção Textual, autora do livro “Traços de Personalidade”.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Fora!, por Aliene Coutinho

Aliene Coutinho (*)



Ele estava ali como sempre esteve. Aparentemente inocente, um companheiro das piores e melhores horas. Eu gostava dele, gostava mesmo e o joguei na minha lista de Ano Novo. Na lista de coisas que eu deveria deixar de fazer de uma vez por todas. Eu já havia me afastado dele por dias, semanas e até meses em outras ocasiões. Mas, nunca de forma tão abrupta e determinada. É, eu finalmente decidi jogar o cigarro fora de minha vida.

Aproveitei deliberadamente a folga de uma semana depois do Natal para esquecer a carteira de mentolados, pela metade, dentro da bolsa. Durante dez dias vivi sem eles, sem sentir a falta deles. Achei na internet um texto do médico Draúzio Varela, onde ele descreve as crises de abstinência como um período onde você pode sentir: irritação, ansiedade, tremores, sudorese fria nas mãos, fome compulsiva, modificação do hábito intestinal, alterações do sono, dificuldade extrema de concentração e alternância de episódios de apatia com outros de agressividade. Ufa, isso é que um vício!

Mesmo não fumando dentro de casa, nem perto das crianças, mesmo passando fins de semana e férias sem sequer dar uma tragada, sempre me considerei uma viciada em nicotina. Já fiquei dois anos consecutivos sem fumar por promessa. Não fumei durante minhas gravidezes, nem nas minhas licenças-maternidades, mas cada vez que voltava ao trabalho, parava na banquinha de revistas da esquina e lá mesmo acendia meu cigarrinho. Chegava a ficar tonta, mas também sentia prazer. Eu sempre gostei de fumar.

Agora estou aqui declarando em público, como garantia, que decidi abandoná-lo para sempre. A cabeça da gente é uma máquina tão perfeita que em nenhuma outra vez tive tanta dificuldade em largar o vício, porque no fundo ela sabia, processava, que eu nunca quis deixar de fumar de verdade. Agora, ela sabe que a situação é outra, e aí está me fuzilando com alguns dos sintomas das crises de abstinência. Nada que eu não possa vencer. Quero viver, no mínimo, os tantos anos que vivi até agora, só que de forma mais saudável e mais madura. Não justifica a essa altura da vida ser dependente do que quer que seja. Além do mais, assim como sonhei em ter meus filhos, sonho em ser uma avó como a que tive: com cheirinho de lavanda, de bolo, de brigadeiro, nunca com cheiro de cinzeiro.

(*) Jornalista e professora de Telejornalismo.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Cordel do Ano Novo, por Gustavo Dourado

Gustavo Dourado (*)



Festival do Ano-Novo
Desde a antiguidade...
Na velha Mesopotâmia:
Foi grande festividade...
Nos meus tempos de criança:
Festejei a novidade...
2.000 a.C:
Começou o Festival...
Na antiga Babilônia:
Foi festa primordial...
Equinócio da primavera:
Lua Nova magistral...
Festejava-se em março:
Era festa de primeira...
O povo aproveitava:
Sacudia a pasmaceira...
Saudava o Sol nascente:
Depois da noite festeira...
A 23 de setembro:
Ano-Novo celebrado...
Pérsia, Assíria, Fenícia:
No Egito... Sol adorado...
Na Grécia em dezembro:
Era bem comemorado...
Na Roma antiga o festejo:
No mês de março era dado...
Depois passou a janeiro:
Por ser Jano cultuado...
Há muito tempo o Ano-Novo:
Pelo povo é celebrado...
Em 153 a.C:
O ano-novo romano...
A festa consolidou-se:
No calendário juliano...
Dia 1º de janeiro:
Calendar gregoriano...
Em 25 de Março:
Era o ano festejado...
Chegava a primavera:
No mundo do outro lado
Até 1º de Abril:
Novo ano cultuado...
Gregório XIII instituiu:
O 1º de Janeiro...
Hoje é comemorado:
No Ocidente inteiro...
Até mesmo no Oriente:
Já é ato costumeiro...
Mudou-se o calendário:
O povo festeja a mil...
Resquício da tradição:
O 1º de Abril...
É o Dia da Mentira:
Na Europa e no Brasil...
Na noite de São Silvestre:
O povo fica acordado...
Para a virada do ano;
É preciso estar ligado...
Nessa noite não se dorme:
É costume consagrado...
O Ano Novo chinês:
É móvel no calendário
Em janeiro ou fevereiro:
Li no Perpétuo Lunário
Luzes...Pirotecnia:
Fluem do vocabulário
A 19 de março:
Do calendário atual...
Ano-Novo esotérico:
De cunho espiritual...
Resgata a tradição:
Do tempo imemorial...
Hégira... Rosh Hashaná:
Buda...Moisés...Maomé
Cristo Jesus em Belém:
Menino de Nazaré
Harmonia para Gaza:
Menos bomba, mais café

(*) Baiano, poeta, cordelista, professor, colunista, jornalista literário, ator e pesquisador. Reside em Brasília. Autor de 9 livros e de vários cordéis. Escreve sobre vários temas e retrata os grandes nomes da arte e da cultura brasileira e mundial.Colabora em sites, blogs, jornais e revistas.